Fui convidado para ministrar sobre esse assunto “Autêntica Adoração”. Provavelmente me chamaram porque souberam de uma ministração que fiz nos EUA sobre Deus – Igreja – Criatividade. Aceitei o desafio, e digo desafio porque sempre admirei a forma e a autenticidade da adoração nas igrejas africanas. Como anglicanos, estamos sempre interessados em aprender um pouco mais, ao chegar ali e interagir com os líderes, compreendi o porquê desse assunto ser necessário e de terem me chamado para esse momento.
Posso começar a compartilhar um pouco sobre o que não é adoração autêntica e listar algumas das marcas dessa negação.
Adoração autêntica não é uma tradição
Faz parte da nossa tradição porque a adoração autêntica remonta ao Antigo Testamento (Salmo 150) nos fala sobre isso e dá detalhes sobre uma verdadeira adoração que muitos negam, mesmo estando explicito nas escrituras.
Passa pelo tempo apostólico e a igreja primitiva (Atos 2:42-46) mostra como a igreja adora a Jesus na simplicidade da sua vida comunitária, chega à idade média e começa a se perder na sua essência e crescer na formalidade e vem a se tornar um imenso conjunto de ritos que perde o sentido, a essência e a autenticidade do cristianismo primitivo. Chega era moderna com a reforma protestante e, para nós, Anglicanos, com Thomas Cramer reestruturando o culto público e a adoração, trazendo a Bíblia de volta para o centro da adoração e o uso no vernáculo nas celebrações. Cremer, uma figura central na adoração da Reforma, tinha uma visão profunda e inovadora para sua época sobre a adoração.
Ele moldou a prática litúrgica da Igreja Anglicana e fez algo muito impactante para sua época. Moldou um livro de Oração Comum, onde a Bíblia e a pregação seriam o centro. Para um povo confuso com as frequentes mudanças de sé, teologia e doutrina, associado ao analfabetismo do povo, inclusive de parte do clero. A Bíblia deveria ser lida nas celebrações em m conjunto de textos que ao longo do tempo completaria toda a leitura da escritura publicamente. Isso foi revolucionário para a época
Ele compilou 12 sermões, (seria o pioneirismo em pregação em séries?) e publicou o 1º livro das homilias. Texto ortodoxo biblicamente e que abrangeu vários assuntos e ainda hoje são necessários e atuais.
Como m verdadeiro “arquiteto” da Reforma Inglesa, Cranmer procurou extirpar da igreja todo o que era chamado de “romanismo” e que resultou em várias mudanças significativas na liturgia e na prática religiosa da Igreja da Inglaterra. Algumas das principais supressões e alterações feitas na liturgia pela reforma inglesa incluem:
Supressão da Missa Católica Romana: A missa tradicional da Igreja Católica foi substituída por serviços de culto em inglês, em vez de latim, e a ênfase foi deslocada da Eucaristia como sacrifício para a comunhão como um ato de lembrança.
Eliminação de Rituais e Cerimônias: Muitos rituais considerados excessivamente católicos ou não bíblicos foram eliminados. Isso incluiu a remoção de práticas como a adoração de relíquias, a veneração de santos a utilização de imagens religiosas e outros símbolos que não refletiam a fé bíblica.
Supressão do uso de vestimentas medievais: O uso da estola foi abolido junto com muitas outras vestimentas e adornos que foram proibidos e considerados “supersticiosidade latina” por exemplo as alvas, túnicas, sinos de mão, água santa entre outras estavam entre as que deveriam ser destruídas. Como exemplo as estolas foram proibidas por cerca de 300 anos após a reforma voltando ao uso após o movimento tractariano conhecido como “movimento de Oxford” liderado por John Newman que depois se tornou cardeal romano.
Mudanças nos Sacramentos: A Igreja Anglicana reconheceu e se mantem até hoje reconhecendo apenas dois sacramentos (Batismo e Eucaristia) como sendo instituídos por Cristo, em contraste com os sete sacramentos reconhecidos pela Igreja Romana.
Revisão do Livro de Oração Comum: O Livro de Oração Comum, que foi introduzido em 1549 e revisado em 1552, estabeleceu uma nova liturgia que refletia as crenças reformadas. Ele incluía orações, leituras bíblicas e a celebração da Eucaristia em inglês.
Redução do Clero e da Hierarquia: A Reforma Anglicana também levou a uma diminuição do poder e da influência do clero, com uma ênfase maior na leitura da Bíblia e na pregação.
Essas mudanças refletiram uma tentativa de reformar a Igreja da Inglaterra, distanciando-a das práticas católicas romanas e buscando uma forma de cristianismo que fosse mais alinhada com as ideias da Reforma Protestante. E tudo isso tinha o objetivo de trazer a igreja de volta para a Autêntica Adoração.
Mas a genialidade revolucionária e pioneira de Cranmer de fato não intencionava congelar as formas de adoração, ele trabalhou no seu tempo, em um contexto inglês e diante das necessidades de uma igreja que praticamente se limitava, em seu tempo, às ilhas Britânicas. O conceito de Anglicanismo é bem mais tardio (Século XIX) e ele sequer conheceu isso, mesmo sendo um homem de visão e além de seu tempo.
Por essa razão é importante trazer à memória algo que as vezes por conveniência ou mero desconhecimento as pessoas tendem a esquecer a razão pela qual Cranmer reformou o culto. Ele supervisionou a publicação dos 39 artigos de religião que é uma espécie de “métrica” para que a igreja não perca seu rumo. Vejamos então o que diz o artigo 34º
34. DAS TRADIÇÕES DA IGREJA. Não é necessário que as Tradições e Cerimônias sejam em todos os lugares uma, ou totalmente semelhantes; pois em todos os tempos, elas foram diversas, e podem ser mudadas de acordo com a diversidade de países, tempos e maneiras dos homens, de modo que nada seja ordenado contra a Palavra de Deus….Toda Igreja particular ou nacional tem autoridade para ordenar, mudar e abolir Cerimônias ou Ritos da Igreja ordenados apenas pela autoridade do homem, de modo que todas as coisas sejam feitas para edificação
É muito importante definir bem o que consideramos a tradição e o tradicionalismo. Eis algumas sugestões.
Tradicionalismo e tradição são conceitos relacionados, mas têm significados e implicações distintas, particularmente em contextos culturais, sociais e religiosos.
Tradição refere-se aos costumes, práticas e crenças que são transmitidos de geração em geração. Representa a continuidade da cultura, valores e rituais dentro de uma comunidade ou sociedade. As tradições não são estáticas e podem evoluir com o tempo, mas estão enraizadas em práticas históricas que proporcionam um senso de identidade e pertencimento. Em essência, tradição é sobre as práticas compartilhadas e a sabedoria do passado que são mantidas no presente.
O tradicionalismo, por outro lado, é uma ideologia ou visão de mundo que enfatiza a adesão estrita aos valores e práticas tradicionais, muitas vezes resistindo à mudança ou modernização. Os tradicionalistas muitas vezes veem seus costumes como essenciais para a integridade e o tecido moral da sociedade e podem se opor a inovações que possam alterar essas tradições de longa data. Em alguns casos, o tradicionalismo está associado ao conservadorismo, onde o objetivo é preservar as estruturas existentes e resistir às influências progressistas ou modernas.
Resumindo, tradição é o conteúdo – costumes, crenças e práticas – transmitidos de geração em geração, enquanto o tradicionalismo é a mentalidade ou ideologia que busca ativamente preservar e proteger essas tradições, às vezes em oposição à mudança ou à modernidade.
Dito isso, é importante que tenhamos em mente as bases da formação da doutrina, liturgia, teologia e ethos de nossa igreja para que não ocorramos no equívoco de querer padronizar tendo como base a prática do século XVI que a nossa reforma decidiu reconstruir.
Assim, é importante reafirmar que não adoramos a Deus porque é uma tradição, mas porque nossos corações estão ansiosos para fazê-lo. Não podemos sobreviver sem adorar nosso Senhor e Deus. Nossa alma é sede de Deus como afirma o salmista
Como o cervo anseia por riachos de água, minha alma suspira ((anseio) por você, meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, Salmo 42:1-2
Esta é a razão pela qual adoramos a Deus, não porque nossa família faz, nossos amigos fazem, nossa tradição faz. Mas porque há um vazio aqui no meu coração que precisa ser preenchido.
Quando a adoração é feita sem convicção, apenas para se adequar às expectativas culturais, familiares, ou a uma tradição ou crença pessoal, fatalmente faltará autenticidade e terminará por ser repleta de:
Ritual sem significado
Envolver-se em rituais ou práticas religiosas mecanicamente, sem engajamento ou compreensão genuínas, pode ser visto como inautêntico. A adoração precisa vir de um lugar de conexão pessoal e reverência, em vez de apenas seguir regras ou ritos (prática judaica).
Participação superficial.
Quando a adoração é mais sobre aparências ou status social do que devoção sincera, pode faltar autenticidade. Isso inclui participar da adoração para obter aprovação ou para exibição, em vez de ser devido a uma crença verdadeira ou respeito.
Desempenho e foco egocêntrico
Envolver-se em adoração, enquanto vivemos de uma maneira que contradiz os princípios de nossa fé pode ser visto como inautêntico. Muitas vezes, espera-se que a verdadeira adoração se alinhe com as ações e valores de alguém, tanto dentro quanto fora das práticas religiosas.
A adoração focada principalmente no ganho pessoal, como buscar poder pessoal, em vez de honrar a Deus ou servir aos outros, pode ser considerada inautêntica. Poderíamos acrescentar muito mais sobre o que não é adoração autêntica, mas isso é o suficiente para melhor entendimento. Prefiro refletir sobre o que é uma “Adoração Autêntica”.
Então, vamos começar aqui perguntando quais são as marcas de uma adoração autêntica?
Podemos começar a tentar definir o que é adoração? Porque para adorar autenticamente precisamos entender o que é Adoração. Por definição, é o ato de reverenciar e honrar algo ou alguém que consideramos sagrado, é o nosso relacionamento com Deus.
A “adoração autêntica” é fundamental porque nos ajuda a nos conectar com Deus em um nível mais profundo e significativo, moldando nosso caráter e transformando nossas vidas. Pode incluir cantar, mas é muito mais do que isso, porque é a intenção do nosso coração. Como algo que vem do coração, não apenas dos lábios, é a nossa intenção e sinceridade que conta.
A adoração é um ato de amor e devoção. Paulo diz aos romanos.
Se você declarar com sua boca: “Jesus é o Senhor”, e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, você será salvo. Pois é com o seu coração que você crê e é justificado, e é com a sua boca que você professa a sua fé e é salvo. Romanos 10,9-10
Mas muito antes dele, o profeta diz…
O Senhor diz: “Este povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim. Sua adoração por mim é composta apenas de regras ensinadas por homens. Is 29:13
Vamos explorar um pouco do que um culto autêntico deve ter
Sinceridade
Como a adoração autêntica vem do coração. Há um abismo entre seguir apenas um ritual por obrigação e adorar a Deus com uma verdadeira devoção. Um bom exemplo da Bíblia de uma adoração inautêntica é como os fariseus adoravam. Eles faziam isso publicamente em praças, e para que todos ouvissem, mas seu coração estava longe de Deus, faziam isso por desempenho, performance não por causa de sua devoção. Já o publicano, sem rituais ou processos burocráticos, derrama seu coração em uma devoção sincera.
Dois homens subiram ao templo para orar, um fariseu e o outro cobrador de impostos. O fariseu ficou sozinho e orou: ‘Deus, eu te agradeço porque não sou como as outras pessoas — ladrões, malfeitores, adúlteros — nem mesmo como este cobrador de impostos. Jejuo duas vezes por semana e dou um décimo de tudo o que recebo. Mas o cobrador de impostos ficou à distância. Ele nem sequer olhava para o céu, mas batia no peito e dizia: ‘Deus, tem misericórdia de mim, pecador. “Eu lhes digo que este, e não o outro, voltou para casa justificado diante de Deus. Pois todos os que se exaltam serão humilhados, e os que se humilham serão exaltados.” Lc 18,10-14
Todos nós somos pessoas sábias para aprender a lição, uma adoração autêntica precisa ser sincera. Quando você colocar sua cabeça no travesseiro hoje esteja ciente e justificado porque você adora Jesus como deve ser feito, com todo o seu coração e mente, com suas vísceras em sinal de que vem de seu mais íntimo interior.
Reverência e humildade
Para isso, é necessário reconhecer plenamente a grandeza de Deus! A Bíblia nos ensina que um coração humilde é o que se aproxima do Senhor. Quanto mais humildade, mais perto estou de Deus.
Abre os meus lábios, Senhor, e a minha boca anunciará o teu louvor. Você não se deleita no sacrifício, ou eu o traria; você não tem prazer em holocaustos. Meu sacrifício, ó Deus, é “um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito que você, Deus, não desprezará. Salmos 51:15-17
Preste atenção a cada parte deste versículo. 1º ele declara sua reverência quando reconhece a grandeza do Senhor, isso nos leva à reverência: “Você não se deleita no sacrifício, ou eu o traria, 2º Ele mostra que conhece o coração de Deus. você não tem prazer em holocaustos. Em seguida, 3º e mais importante, ele mostra qual é o seu ato de adoração, ó Deus, Meu sacrifício é “um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito que você, Deus, não desprezará
Isso não é lindo? É maravilhoso quando entendemos o que é um coração sincero, reverente e humilde para adorá-Lo. Então mantenha-se justificado com um coração humilde e reverente busque e adore o Senhor de uma forma autêntica
Transparência e confiança
Sejamos abertos e honestos com seu Deus pai, expressando verdadeiramente nossas alegrias, dúvidas e frustrações. A adoração é um ato de relacionamento, não de religiosidade. Como ousaríamos não ser transparentes com o Senhor? Isso é insanidade, pois ele sabe tudo, conhece nossos corações, nossos pensamentos, como nos comportamos.
Nada em toda a criação está oculto à vista de Deus. Tudo é descoberto e exposto diante dos olhos daquele a quem devemos prestar contas. Hebreus 4:13
Isso é básico, talvez o primeiro passo para entender o que é uma adoração autêntica. Você não precisa mudar seu tom de voz, não precisa usar um vocabulário formal nem gestos pré-estabelecidos, as pessoas às vezes quando começam a falar com Deus, mudam isso e torna-se formais, como se o Pai se incomodasse com seu vocabulário ou tom de voz.
Entenda isso, você está no colo de seu Pai, você pode confiar Nele, Ele te ama, Ele quer ouvir sua voz real, seus dilemas reais. Quando você adora a Deus, quando fala com ele, quando O louva, seja o mais transparente possível e confie nele que ele vai ouvi-lo e lidar com você.
Você precisa entender isso.
Ser transparente é deixar os olhos de Deus entrarem para ver e tirar todo o mal que há em nós.
Nossa mente e coração são onde nossas ações nascem. Eles são a fábrica do nosso comportamento. Os olhos de Deus são capazes de penetrar e transformar, mas para isso é necessário ser transparente e confiável. Ritos e cerimonias vazias não colaboram com isso.
Agora, estou chegando à segunda parte de meu raciocínio. Como já sabemos o que é uma adoração autêntica, precisamos saber quais são as barreiras para uma adoração autêntica. Uma das maiores barreiras para a adoração autêntica são estas
BARREIRAS À AUTÊNTICA ADORAÇÃO
Tradicionalismo que bloqueia a criatividade
Quando nossas práticas se tornam meros hábitos sem sentido.
A tradição é a fé viva daqueles que morreram, o tradicionalismo é a fé morta daqueles que estão vivos.
Isso é muito divino porque Deus é um Deus criativo, certo? Ele nos deu todas as habilidades para sermos criativos e sermos abençoados por sua mente e propósitos criativos. Acho que o grande problema disso é sobre nós.
Temos limitado Deus tentando colocá-lo em uma caixa que nunca caberia Nele. Não sei exatamente por que fazemos isso, mas para ser sincero, acho isso um problema. A Igreja no século 21, uma sociedade em metamorfose e uma igreja estancada no século XVI, isso me parece irracional.
Precisamos mudar, o mundo muda, as pessoas mudam, as artes mudam, a sociedade muda, mas parece que algumas pessoas querem que a igreja seja a mesma. Tenho experimentado um bom número de mudanças em minha vida e ministério. Minha formação me permite pensar um pouco fora da caixa
Sou um homem do mar, cresci pescando, surfando, remando, minha tribo sempre foi aquela que não se encaixava exatamente no que as pessoas chamariam de “Igreja”, eu adorava rock, me vestia diferente. Desde que me recordo, nunca consegui caber em uma caixa apenas.
Quando me tornei cristão, procurei pessoas com quem pudesse me identificar. Então, passei um tempo com o “Jesus People” no Brasil “Meninos de Deus”. Porque eles falavam meu vocabulário, meu jeito e falavam de Jesus.
Como pastor, tento ser o mais criativo possível. Temos um ditado em nossa igreja que diz assim:
“Um novo tempo, o evangelho de sempre”
Para ser criativo, você não precisa fazer o mesmo que Cranmer fez, mas fazer o que ele faria hoje. Não temos nenhum problema em mudar e inovar nada, desde que mantenhamos a mensagem do evangelho.
Há um livro de D.A. Carson chamado “louvor” e um capítulo foi escrito por um pastor anglicano Mark Ashton, onde ele tenta repensar o que Tomas Cranmer pretendia quando construiu o LOC. E mesmo sendo um homem da tradição ele procurou mostrar a necessidade de adaptação das realidades. Ele diz isso
“nunca foi o desejo de Tomas Cranmer congelar a liturgia anglicana por séculos para acabar perdendo sua relevância cultural e reintroduzir a obscuridade da igreja, aspecto que ele trabalhou duro para remover“
Usar a criatividade é uma maneira de trazer o frescor de Deus para nós. Visitei muitos lugares e igrejas em diferentes partes do mundo. Mas eu ouvi, um dia de alguém ensinando sobre criatividade dizendo que “A ansiedade inibe a criatividade”, ele estava tentando ensinar sobre a espontaneidade que devemos buscar quando ministramos a Deus e ao povo de Deus.
Mentes criativas não são como um botão que você clica e funciona, precisa trabalhar. Exercite-se porque seu cérebro é seletivo e precisa ser treinado, quando você renova sua mente, você capta novas ideias
A criatividade nos ajuda a evitar o óbvio e você pode usá-la em sua música, artes, pintura e sermões. As pessoas ficam entediadas quando você diz o óbvio. Se eu puder lhe dar um conselho sobre isso será esse: Fuja do óbvio, surpreenda sua congregação com adoração autêntica
Quando a inovação não é um valor
Aquele que estava sentado no trono disse: “Estou fazendo novas todas as coisas!” Então ele disse: “Escreva isso, pois essas palavras são confiáveis e verdadeiras”. Ap 21, 5
Eu vejo isso como fundamental. A criatividade nasce como fruto de um ambiente onde é cultivada. Quem valoriza a inovação não elogia apenas o que está feito, mas as novas formas de fazê-lo novamente e assim, estão dispostos a arriscar, ouvindo o novo e olhando para o que ainda não existe.
Eu posso dar um exemplo, costumo dizer às pessoas que somos anglicanos, mas não somos britânicos, com todo o respeito aos nossos irmãos e irmãs das ilhas. Não precisamos voltar ao século da reforma para adorar a Deus como eles adoraram. Estamos no Sul Global, temos sangue quente.
Se há insegurança para ver o que os outros estão fazendo
Portanto, encorajem-se uns aos outros e edifiquem-se uns aos outros, assim como de fato vocês estão fazendo. 1 Ts 5:11
Uma coisa que limita a criatividade é limitar-se ao que já foi feito. Dê uma volta, veja o que as pessoas estão fazendo, veja se é aplicável à sua realidade e adapte. Lembre-se de que o que também bloqueia a criatividade é sempre copiar e colar. Em muitos rincões anglicanos, o que se tem feito é “Control C , Control V” do século XVI.
Existe muita coisa nova e muita coisa boa acontecendo na Igreja deste século e em todo canto. Da mesma forma, não copiamos tudo, de lugar algum, sem propósito. Deus te me dado o privilégio de conhecer o mundo anglicano e o mundo cristão em diferentes nações. Sempre tenho comigo no meu bloco de notas um arquivo chamado “dicas de viagem” quem vê pode pensar que se trata de pontos turísticos, lugares a serem visitados…mas não, são anotações do que vejo e procuro entender se é aplicável, se cumpre o propósito e se sim, aplicamos e adaptamos a nossa realidade. São mais de 30 anos fazendo isso e o resultado muitos sabem.
Quem tem temor de copiar o que é bom, terá dificuldades de experimentar os novos sabores
Quando não há visão
Onde não há visão, o povo perece PV 29:18
Aprendi que o sobrenatural não é apenas sobre cura e milagres, mas sobre uma visão ampla e apostólica. Os lugares mais altos dão a você uma visão ampla. Um líder precisa estar em lugares mais altos para levar seu povo para o lugar certo. Sempre procurei estar perto de quem enxerga melhor e vê adiante. Isso me ajudou e ajudará qualquer um a levar seu povo para um lugar seguro.
Quando sacramentalizamos o passado
Quando alguém está fixado no passado e mantido nas tradições humanas, dificilmente verá as possibilidades de criatividade e inovação. O novo virá de um coração que não se sente confortável com o que foi realizado no passado. Gostamos do que já vivemos, mas olhamos para o futuro e para as suas necessidades, então a criatividade e a inovação surgirão.
A igreja deve ser um lugar onde a criatividade floresce! E devemos ser as pessoas que fariam isso acontecer. Estamos perdendo uma geração porque nos preocupamos demais em manter as tradições. Olhe para o cenário mundial, artes, artistas, músicos, filmes, publicidade, em todos os lugares há pessoas sempre inovando.
Agora olhe para as igrejas, que estão tentando manter sua história, que está no passado e, fazendo isso, estão perdendo uma geração inteira. Sinto muito, mas não estou com isso
Quero me manter construindo uma igreja inovadora e criativa
Estou tentando, pelo menos estou
Cultos inovadores e criativos
Programas inovadores e criativos
Decoração inovadora e criativa
Ambientes inovadores e criativos
Isso nos levará a uma adoração autêntica
E o propósito de tudo isso é ALCANCAR TODAS AS PESSOAS PARA JESUS!
Nosso Deus é um Deus Criativo, Seu reino é um reino para exercitar a criatividade, ele nos deu mentes e cérebros para serem usados para sua glória. Quero concluir encorajando todos a continuar a buscar uma adoração que seja fiel à tradição, profunda em seu significado pessoal e inovadora em sua prática.
Espero que entendamos isso antes que seja tarde demais.
Ele (Cristo) é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia. Colossenses 1:18
Saudações desde Kigali, Ruanda, onde a quarta Conferência Global do Futuro Anglicano (Global Anglican Future Conference – GAFCON) aconteceu entre os dias 17 a 21 de abril de 2023, reunindo 1.302 delegados de 52 países, incluindo 315 bispos, 456 outros clérigos e 531 leigos.
Ficamos gratos pela extraordinária hospitalidade oferecida pelo Arcebispo Laurent Mbanda e pela Igreja Anglicana de Ruanda. Ficamos profundamente tristes ao ouvir a notícia da perda do filho de Laurent e Chantal, Edwin, e continuamos a oferecer nossas orações de conforto para a família Mbanda.
Também tivemos o privilégio de sermos recebidos e dirigidos pelo Primeiro Ministro da República de Ruanda, o Honorável Edouard Ngirente, que falou sobre a importância do nosso encontro.
O tema da nossa conferência para 2023 ‘Para quem iremos nós?’ (João 6:68), juntamente com nossos estudos bíblicos na Carta aos Colossenses, concentrou nossa atenção em Jesus, aquele em quem habita corporalmente toda a plenitude de Deus, o Senhor de toda a criação e a cabeça de seu corpo, a Igreja (Colossenses 1:15-19; 2:9).
Nosso presidente em seu discurso de abertura nos incentivou a sermos uma igreja que se arrepende, uma igreja reconciliadora, uma igreja que se multiplica e uma igreja persistentemente compassiva. Esta é a igreja que queremos ser.
Fomos lembrados de que o propósito e a missão da igreja é dar a conhecer a um mundo perdido as gloriosas riquezas do evangelho, proclamando Cristo crucificado e ressuscitado, e vivendo fielmente juntos como seus discípulos.
Nossa Comunhão Mútua
Demos graças pela bondade e pela fidelidade de Deus ao movimento Gafcon desde o seu início em 2008, enquanto nos regozijávamos com uma nova geração de líderes emergentes. É Deus quem nos une a si mesmo e uns aos outros no poder do seu Espírito (1 Coríntios 12:13). Em meio a diversidade de nossas diferentes origens e culturas, nos deleitamos em nossa unidade em Cristo e no amor que compartilhamos.
Muitos de nós vimos de contextos de perseguição ou conflito e sabemos que quando uma parte do corpo sofre, todos sofrem. Por esta razão, alguns não puderam comparecer à conferência. Oramos por nossos irmãos e irmãs no Sudão e pela igreja perseguida. Também ouvimos testemunhos do poder do evangelho para transformar vidas, mesmo nessas circunstâncias, por meio da oração, bondade e compaixão dos cristãos.
A autoridade da palavra de Deus
As atuais divisões na Comunhão Anglicana têm sido causadas por afastamentos radicais do evangelho do Senhor Jesus Cristo. Alguns dentro da Comunhão foram levados cativos por filosofias vazias e enganosas deste mundo (Colossenses 2:8). Tal falha em ouvir e atender à Palavra de Deus prejudica a missão da igreja como um todo.
A Bíblia é a Palavra de Deus escrita, soprada por Deus, como foi registrado por seus fiéis mensageiros (2 Timóteo 3:16). Ela carrega a própria autoridade de Deus, é sua própria intérprete e não precisa ser complementada, nem pode jamais ser anulada pela sabedoria humana.
A boa Palavra de Deus é a regra de nossas vidas como discípulos de Jesus e é a autoridade final na igreja.
Ela fundamenta, vivifica e dirige a nossa missão no mundo. A comunhão que desfrutamos com nosso Senhor ressuscitado e ascendido é nutrida à medida que confiamos na Palavra de Deus, obedecemos a ela e nos encorajamos mutuamente a permitir que ela molde cada área de nossas vidas.
Esta comunhão é quebrada quando nos desviamos da Palavra de Deus ou tentamos reinterpretá-la de qualquer forma que subverta a leitura simples do texto em seu contexto canônico e, assim, negamos sua veracidade, clareza, suficiência e, portanto, sua autoridade (Declaração de Jerusalém #2).
A Crise Atual na Comunhão Anglicana
Apesar de 25 anos de advertências persistentes por parte da maioria dos primazes anglicanos, repetidos afastamentos da autoridade da Palavra de Deus rasgaram o tecido da Comunhão. Esses avisos foram flagrantemente e deliberadamente desconsiderados e agora, sem arrependimento, este rasgo não pode ser restaurado.
O mais recente desses afastamentos é o voto majoritário no Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra, em fevereiro de 2023, acolhendo as propostas dos bispos para permitir que casais do mesmo sexo recebam a bênção de Deus. Entristece o Espírito Santo e a nós que a liderança da Igreja da Inglaterra esteja determinada a abençoar o pecado.
Visto que o Senhor não abençoa as uniões entre pessoas do mesmo sexo, é pastoralmente enganoso e blasfemo elaborar orações que invoquem bênçãos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Qualquer recusa em seguir o ensino bíblico de que o único contexto apropriado para a atividade sexual é a união vitalícia exclusiva de um homem e uma mulher em casamento, viola a ordem criada (Gênesis 2:24; Mateus 19:4–6) e põe em risco a salvação (1 Coríntios 6:9).
As declarações públicas do Arcebispo de Cantuária e de outros líderes da Igreja da Inglaterra em apoio às bênçãos para união de pessoas do mesmo sexo, são uma traição aos seus votos de ordenação e sagração para banir o erro e manter e defender a verdade ensinada nas Escrituras.
Estas declarações são também um repúdio à Resolução I.10 da Conferência Lambeth de 1998, que declara que “a prática homossexual é incompatível com as Escrituras” e desaconselha a “legitimação ou a bênção das uniões entre pessoas do mesmo sexo”. Isto ocorreu apesar do Arcebispo de Cantuária ter afirmado que “a validade da resolução aprovada na Conferência de Lambeth de 1998, I.10, não é questionada e que toda a resolução ainda está em vigor”.
A Conferência de Lambeth de 2022 demonstrou as profundas divisões na Comunhão Anglicana, já que muitos bispos optaram por não comparecer e, alguns dos que compareceram, se retiraram da partilha na mesa do Senhor.
O fracasso do Arcebispo de Cantuária e dos outros Instrumentos de Comunhão
Não temos confiança de que nem o Arcebispo de Cantuária nem os outros Instrumentos de Comunhão por ele liderados (a Conferência de Lambeth, o Conselho Consultivo Anglicano e as Reuniões dos Primazes) sejam capazes de proporcionar um caminho divino que seja aceitável para aqueles que estão comprometidos com a veracidade, clareza, suficiência e autoridade das Escrituras. Os Instrumentos da Comunhão não conseguiram manter a verdadeira comunhão baseada na Palavra de Deus e a fé compartilhada em Cristo.
Todos os quatro instrumentos propõem que a direção para a Comunhão Anglicana é aprender a caminhar juntos em “boa discordância”. Entretanto, rejeitamos a afirmação de que duas posições contraditórias podem ser igualmente válidas em assuntos que afetam a salvação. Não podemos “caminhar juntos” em boa discordância com aqueles que deliberadamente escolheram afastar-se da ” fé uma vez por todas confiada aos santos.” (Judas 3). O povo de Deus “anda em seus caminhos”, “anda na verdade” e “anda na luz”, tudo isso exige que não andemos em comunhão cristã com os que estão nas trevas (Deuteronômio 8:6; 2 João 4; 1 João 1:7).
Sucessivos Arcebispos de Cantuária não conseguiram guardar a fé ao convidar para Lambeth bispos que abraçaram ou promoveram práticas contrárias às Escrituras. Este fracasso da disciplina da Igreja foi agravado pelo atual Arcebispo de Cantuária que, por sua vez, acolheu favoravelmente a provisão de recursos litúrgicos para abençoar estas práticas contrárias às Escrituras. Isto torna seu papel de liderança na Comunhão Anglicana totalmente indefensável.
Chamado ao Arrependimento
O arrependimento define e molda a vida cristã e a vida da igreja. A cada dia na Conferência, em resposta à Palavra de Deus na carta aos Colossenses, fomos direcionados a um tempo de arrependimento.
Reconhecendo nossos próprios pecados e humildemente como pecadores perdoados, oramos para que aqueles que negaram a fé cristã ortodoxa em palavras ou atos se arrependam e retornem ao Senhor (Declaração de Jerusalém #13).
Uma vez que aqueles que ensinam serão julgados com mais rigor (Tiago 3:1), convocamos as províncias, dioceses e líderes que se afastaram da ortodoxia bíblica a se arrependerem de sua falha em defender os ensinamentos da Bíblia. Isto inclui assuntos como a sexualidade humana e o casamento, a singularidade e divindade de Cristo, sua ressurreição corporal, seu retorno prometido, o chamado à fé e ao arrependimento e o julgamento final.
Ansiamos por este arrependimento, mas, até que isto aconteça, nossa comunhão com eles permanecerá rompida.
Consideramos que aqueles que se recusam a se arrepender, abdicaram de seu direito à liderança dentro da Comunhão Anglicana, e nos comprometemos a trabalhar com os primazes ortodoxos e outros líderes para restabelecer a Comunhão em seus fundamentos bíblicos.
Apoio aos Anglicanos Fiéis
Desde o início do Gafcon, tem sido necessário que os Primazes do Gafcon reconheçam novas jurisdições ortodoxas para os anglicanos fiéis, como a Igreja Anglicana na América do Norte (ACNA), a Igreja Anglicana no Brasil, a Rede Anglicana na Europa (ANiE), a Igreja de Confissão dos Anglicanos Aotearoa Nova Zelândia e a Diocese da Cruz do Sul. Encorajamos os Primazes do Gafcon a continuar a oferecer esse porto seguro para os anglicanos fiéis.
Em vista da crise atual, reiteramos nosso apoio àqueles que não podem permanecer na Igreja da Inglaterra por causa da falha de sua liderança. Regozijamo-nos com o crescimento da ANiE e de outras redes alinhadas com o Gafcon.
Também continuamos a nos apoiar e a orar pelos anglicanos fiéis que permanecem dentro da Igreja da Inglaterra. Apoiamos seus esforços para manter a ortodoxia bíblica e para resistir às violações da Resolução I.10.
Cuidado Pastoral Apropriado
Conscientes de nosso próprio pecado e fragilidade, nos comprometemos a proporcionar um cuidado pastoral adequado a todas as pessoas em nossas igrejas. Isto é ainda mais necessário no atual contexto de confusão sexual e de gênero, agravado por sua promoção deliberada e sistemática em todo o mundo.
O cuidado pastoral apropriado afirma fidelidade no casamento e abstinência na vida de solteiro. Não é um cuidado pastoral apropriado enganar as pessoas, fingindo que Deus abençoa os relacionamentos sexualmente ativos entre duas pessoas do mesmo sexo. Isto é pouco amoroso, pois os leva ao erro e coloca um obstáculo no caminho de sua herança do Reino de Deus (1 Coríntios 6:9-11).
Afirmamos que cada pessoa é amada por Deus e estamos determinados a amar como Deus ama. Como afirma a Resolução I.10, nos opomos à difamação e à calúnia de qualquer pessoa, inclusive daquelas que não seguem os caminhos de Deus, já que todos os seres humanos são criados à imagem de Deus.
Somos gratos a Deus por todos aqueles que procuram viver uma vida de fidelidade à Palavra de Deus em face de todas as formas de tentação sexual.
Comprometemo-nos a apoiar e cuidar uns dos outros de uma forma amorosa e pastoralmente sensível, como membros do corpo de Cristo, edificando uns aos outros na Palavra e no Espírito, e encorajando uns aos outros a experimentar o poder transformador de Deus enquanto caminhamos pela fé no caminho do arrependimento e da obediência que leva à plenitude da vida.
Redefinindo a Comunhão
Ficamos maravilhados em receber em Kigali os líderes da Fraternidade das Igrejas Anglicanas do Sul Global (Global South Fellowship of Anglican Churches – GSFA) e de termos tido uma reunião conjunta entre os primazes Gafcon-GSFA. Juntos, esses primazes representam a esmagadora maioria (estimada em 85%) dos anglicanos em todo o mundo.
A liderança de ambos os grupos afirmou e celebrou seus papéis complementares na Comunhão Anglicana. Gafcon é um movimento focado em evangelismo e missão, plantação de igrejas e apoio bem como é um lar para anglicanos fiéis que são pressionados ou isoladas por dioceses e províncias revisionistas. O GSFA, por outro lado, está focado em estabelecer estruturas baseadas na doutrina dentro da Comunhão.
Nos alegramos com o compromisso em unidade de ambos os grupos sobre três fundamentos: o senhorio de Jesus Cristo; a autoridade e clareza da Palavra de Deus; e a prioridade da missão da igreja para o mundo. Reconhecemos sua concordância de que a “comunhão” entre igrejas e cristãos deve ser baseada na doutrina (Declaração de Jerusalém #13; Pacto GSFA 2.1.6). A identidade anglicana é definida por isto e não pelo reconhecimento da Sé de Cantuária.
Ambos os Primazes do GSFA e do Gafcon compartilham a opinião de que, devido aos desvios da ortodoxia articulada acima, eles não podem mais reconhecer o Arcebispo de Cantuária como um Instrumento de Comunhão, nem como o “primeiro entre iguais” dos Primazes. A Igreja da Inglaterra optou por prejudicar sua relação com as províncias ortodoxas da Comunhão.
Nós aplaudimos a Declaração da Quarta-feira de Cinzas do GSFA em 20 de fevereiro de 2023, pedindo um restabelecimento e a reordenação da Comunhão. Parabenizamos o convite dos Primazes do GSFA para colaborar com o Gafcon e com os outros agrupamentos anglicanos ortodoxos, para trabalhar juntos a forma e a natureza de nossa vida comum e como devemos manter a prioridade de proclamar o evangelho e fazer discípulos de todas as nações.
Redefinir a Comunhão é um assunto urgente. Ela precisa de uma base adequada e robusta que aborde as complexidades legais e constitucionais das diversas Províncias. O objetivo é que os anglicanos ortodoxos no mundo todo tenham uma identidade clara, um “lar espiritual” global do qual possam se orgulhar, e uma forte estrutura de liderança que lhes dê estabilidade e direção como anglicanos globais. Portanto, nos comprometemos a orar para que Deus guie este processo de redefinição e que o Gafcon e o GSFA se mantenham em sintonia com o Espírito.
Nosso Futuro Juntos
Ao considerarmos o futuro de nosso movimento, acolhemos as sete prioridades a seguir, articuladas pelo Secretário Geral e endossadas pelos primazes do Gafcon.
Nós vamos nos envolver em uma década de discipulado, evangelismo e missão (2023-2033).
Vamos nos dedicar a levantar a próxima geração de líderes no Gafcon por meio da educação teológica baseada na Bíblia que os equipará para serem centrados em Cristo e com um coração de servo.
Vamos priorizar o ministério de jovens e crianças que os instrui na Palavra do Senhor, os discipula até a maturidade em Cristo e os prepara para uma vida inteira de serviço cristão.
Afirmaremos e incentivaremos os ministérios vitais e diversos, incluindo os papéis de liderança, do ministério das Mulheres no Gafcon, agindo na família, igreja e sociedade, tanto como indivíduos quanto como grupos.
Demonstraremos a compaixão de Cristo através dos muitos ministérios de misericórdia do Gafcon.
Nós vamos financiar e apoiar o programa de treinamento de bispos, que produz líderes fiéis, corajosos e servos.
Construiremos os laços de comunhão e edificação mútua através de visitas interprovinciais dos nossos primazes.
Ao sair de nossa conferência, encorajamos o Conselho de Primazes a priorizar também o discipulado para meninos e homens.
A fim de perseguir estas prioridades e de fazer crescer o trabalho do movimento Gafcon, endossamos o estabelecimento de uma fundação para doação. Também encorajamos as províncias Gafcon a se tornarem financeiramente auto-suficientes, não apenas para avançar a missão, mas também para evitar serem vulneráveis à manipulação econômica.
O mais importante de tudo, nós nos comprometemos novamente com a missão evangélica de proclamar o Cristo crucificado, ressuscitado e ascendido, convidando todos a reconhecê-lo como Senhor no arrependimento e na fé, e vivendo uma obediência alegre e fiel a sua Palavra em todas as áreas de nossas vidas. Exploraremos novas maneiras de encorajar uns aos outros, de orar uns pelos outros e de nos responsabilizarmos uns pelos outros nestes pontos.
Nós nos entregamos nas mãos do nosso todo-poderoso e amoroso Pai celestial com a confiança de que ele cumprirá todas as suas promessas e, mesmo através de um tempo de poda, Cristo edificará a sua igreja.
‘Para onde iremos nós?’ Vamos a Cristo, o único que tem as palavras da vida eterna (João 6:68) e, então, vamos com Cristo para o mundo inteiro. Amém.
Pregue a palavra; estar preparado na estação e fora de época; corrija, repreenda e encoraje — com grande paciência e cuidadosa instrução. Pois virá o tempo em que as pessoas não suportarão a sã doutrina. Em vez disso, para atender aos seus próprios desejos, eles reunirão em torno deles um grande número de professores para dizer o que seus ouvidos coçando querem ouvir 2 Tm 4:2-5
A DECLARAÇÃO DA IGREJA ANGLICANA NO BRASIL
Após a divulgação na mídia nacional e internacional sobre a decisão do Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra de “abençoar” as uniões do mesmo sexo, a Igreja Anglicana no Brasil se une às conclusões da GSFA (Global South Fellowship of Anglican Churches e da GAFCON (Global Anglican Future Conference) e entende a necessidade de fazer os seguintes esclarecimentos.
A Comunhão Anglicana compreende mais de 40 províncias autônomas, que são igrejas nacionais e, em alguns casos, multinacionais, envolvendo mais de um país. Seus cânones os governam. E espera-se que vivam em unidade com as outras Províncias da Comunhão.
Os anglicanos na Inglaterra formam “A Igreja da Inglaterra”, e é uma dessas mais de 40 províncias.
A decisão tomada pela Igreja da Inglaterra em seu sínodo nacional esta semana não afeta as outras igrejas da Comunhão Anglicana e se aplica apenas a essa igreja.
A Igreja Anglicana no Brasil faz parte de anglicanos em todo o mundo que permanecem fiéis às Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento e seguem as resoluções estabelecidas por sua maioria na Conferência de Lambeth em 1998, especialmente a relativa à sexualidade humana (resolução 1:10)
A Igreja Anglicana no Brasil faz parte da GAFCON (Conferência Global para o Futuro do Anglicanismo), signatária da “Declaração de Jerusalém” e membro da Global South Fellowship of Anglican Churches (GSFA), que reúne mais de 70 milhões de anglicanos em todo o mundo que permanecem fiéis à Bíblia como a Palavra de Deus.
A Igreja Anglicana no Brasil refuta o revisionismo bíblico que vem “rasgando” o frágil tecido da unidade da igreja.
Como cristãos, amamos todos os seres humanos, vendo-os como criação de Deus e, como tal, em constante necessidade do amor e do perdão de Deus; de nós mesmos, também podemos identificar o pecado em nossas vidas.
A união entre um homem e uma mulher é como biblicamente entendemos o casamento, por isso o defendemos e praticamos. (Gênesis 2:24)
Nós nos voltamos contra a violência contra qualquer ser humano, apesar de sua identidade sexual, e reconhecemos a necessidade de cuidado pastoral para aqueles em conflito.
Estamos ansiosos para o GAFCON IV em abril, quando, juntamente com milhares de anglicanos, oraremos, refletiremos e decidiremos os próximos passos a serem dados sobre o assunto.
DECISÃO DO ACiB
Em reflexão e oração, o Conselho Executivo da Igreja Anglicana no Brasil decidiu: Declarar Quebra de comunhão com Dioceses, igrejas, instituições e líderes da Comunhão Anglicana que apoiam as resoluções do Sínodo Geral da Igreja da Inglaterra de 2023 sobre bênçãos do mesmo sexo. Também acreditamos ansiosamente que muitos anglicanos na Inglaterra mantêm a fé ortodoxa e estão sob ameaça, por isso oferecemos nossas orações e apoio de qualquer maneira possível.
Aos Cristãos da Nação Brasileira, especialmente à família Anglicana no Brasil
Recife, 05 de outubro de 2022
Nós, bispos do Colégio Episcopal da igreja Anglicana no Brasil, chegamos até vocês para cumprir com o nosso ministério pastoral e profético de anunciar o Reino de Deus, denunciar toda injustiça e tudo aquilo que se levante contra os valores deste Reino. Para tal nesse período eleitoral e decisivo da nossa nação, recomendamos que:
Nenhuma de nossas igrejas devem ser usadas como tribuna para candidatos de qualquer partido
Nossos clérigos não devem se envolver em campanhas de qualquer candidato
Oremos, porque nossa nação precisa de nossos joelhos (1 Tm 2:1-2)
Exerçamos nossa cidadania – Todo(a) brasileiro(a) devidamente habilitado(a) pode e deve exercer o direito de escolher um candidato. Recomendamos que não se abstenham, não se isentem, não sejamos omissos em um momento tão crítico da nação. (Mt 5:13-16)
Atentemos para a importância da eleição- Além do presidente, 12 Estados ainda estarão escolhendo seus mandatários e nossa participação continua sendo fundamental. ( 1 Ts 5:21)
Tenhamos serenidade diante de todo tumulto. A campanha eleitoral está acirrada. A serenidade é necessária diante de tanta confusão estabelecida nessa disputa. Recomendamos pensar e não se deixar manipular pelos discursos e promessas que são as mesmas a cada quatro anos. ( 2 Tm 2:23-24)
Entendamos que obrigação não é proposta- Os candidatos a cada eleição afirmam com altivez que defenderão especialmente os pobres com os recursos para EDUCACÃO-SAÚDE-COMBATE A VIOLENCIA- SEGURANÇA. Lembrem que essas são parte das obrigações constitucionais do Estado e não benefícios que eles trarão. Eles são OBRIGADOS a fazer isso. Candidatos e seus apoiadores colocam esses temas como sendo uma grande proposta pessoal deles e não obrigação do Estado e de sua função de parlamentar. (Pv 14:31)
Não nos deixemos manipular, observemos se há coerência. Sugerimos fazer uma pesquisa sobre o candidato e seus apoiadores, quem eles são, se há coerência em suas alianças e propostas. (Mt 5:37)
Priorizemos princípios e valores. Os valores Judaico-cristãos são a base da sociedade ocidental. Você como cristão(ã) deve lutar para preservá-los. Os legisladores estão entrando nos nossos lares e contra o direito da família, tem tentado educar nossos filhos através da criação de leis e estratégias dentro do sistema educativo. Não sejamos ingênuos, o mal não se apresenta raivoso, mas sonso. O que pensa o seu Candidato ou seus apoiadores a esse respeito? Abaixo alguns desdobramentos dos Princípios e valores que são inegociáveis e defendemos como cristãos (Pv 22:6)
Valores da família- A cristandade crê na família como a união de um homem e uma mulher com o proposito de ser feliz, de procriar e encher a terra da graça de Deus. Rejeitamos veementemente o que tem se chamado de “ideologia de gênero” abusando emocionalmente nossas crianças. A criação de uma criança sem a presença masculina e a feminina traz malefícios comprovados cientificamente há muito. O que defendem os seus candidatos e seus apoiadores a esse respeito? (Js 24:15)
Valores éticos – A honestidade e a integridade são valores inegociáveis. Os candidatos devem ter seus nomes limpos e nunca terem atentado contra o erário publico, que drena as riquezas da nação. Recentemente vimos o nosso país ser alvo do maior escândalo de corrupção de nossa história e talvez do mundo. A corrupção não tem partido ou ideologia, ela é um mal do desvio dos propósitos de Deus. Como se comporta seu candidato a esse respeito? (Jó 15:16)
Valores da vida – Como cristãos defendemos a vida e somos contra a interrupção da gravidez em qualquer fase dela, desde a fecundação. Entendemos o aborto como o assassinato de um não nascido indefeso. Não se pode argumentar que “mulheres estão morrendo por abortos ilegais “e escolher matar outro ser indefeso para salvá-la. Ambos devem ter direito a vida. O que seus candidatos e seus apoiadores pensam sobre isso? (Ex 20:13;Dt 5:17)
Valores da justiça– Justiça na compreensão do evangelho é “fazer a coisa certa”, o cristianismo defende a igualdade de oportunidade para todos e o cuidado com os mais desprovidos e marginalizados da sociedade. Rejeitamos as sociofobias seja homo, hétero ou de qualquer tipo. Todos devem ser iguais perante a lei e todos devem ter deveres e direitos. (Jó 8:3)
Ideologização do gênero humano – Entendemos que Deus criou homem e mulher para se completarem, crescerem e multiplicarem. O que vá além disso é opção pessoal de cada um e devem ser respeitados os que creem e os que fazem suas opções. (Gn 1:27)
Valores espirituais – Sim entendemos ser importante avaliar a espiritualidade de seu candidato. O Estado é laico para não promover uma confissão, mas a nação é livre para viver de acordo coma sua espiritualidade. Nosso Deus é Jesus Cristo, rejeited optar por candidatos que se opõem a fé cristã. (Ex 20:3)
Defendamos a livre iniciativa e o direito à propriedade – O Estado tem suas obrigações e a iniciativa privada deve ter sua liberdade. Defendemos a economia de mercado e entendemos que o Congresso Nacional e a Presidência da República tem o dever de promover uma economia equilibrada, fortalecer o acesso ao crédito, valorizar as riquezas nacionais, diminuir o tamanho do Estado para que haja geração de empregos que trará́ uma sociedade mais justa e, preservar o direito à propriedade combatendo as invasões delas. Nossa herança protestante dá valor a iniciativa privada com ética e honestidade e justiça. (Ex 20:17)
Lembremo-nos dos mais necessitados – Com seu voto, você tem a oportunidade para defender quem é mais vulnerável na sociedade. De acordo com a Bíblia, os governantes têm o dever de proteger os mais necessitados. Enquanto você analisa as políticas de cada candidato, não pense somente em você. Pense também em quem precisa de ajuda.( Pv 312:8-9)
Entendamos que não há candidatos “ungidos” – A política é uma atividade nobre e deve ser exercida para o povo e em benefício dele. A Igreja não deve ser “cabo eleitoral”. A lei proíbe o uso da estrutura das religiões e da fé como plataforma de lançamento de candidatos. Estamos elegendo pessoas para fazer o bem da nação e não da “minha religião”. Qual a prática de seu candidato e de seus apoiadores a esse respeito? (1 Samuel 15:26)
Denunciemos toda forma de corrupção. Ela destrói as bases produtivas e a economia da nação, drenando seus recursos e evitando que eles sejam utilizados em prol das obrigações inerentes ao Estado. Seu candidato ou seus apoiadores estão ou estiveram envolvidos em corrupção? (Ex 20:15)
Defendamos o Estado Laico, mas não ateu- O Estado laico defende a liberdade religiosa e não prioriza nenhuma delas. Temos visto uma tentativa de se criar um Estado “Cristianofóbico”. Qual a postura de seu candidato e de seus apoiadores quanto a isso? (T 5:10-12)
Rejeitemos a legalização do consumo de drogas- Entendemos que o que gera o tráfico de drogas são os consumidores. Muitos deles são vítimas outros são protagonistas e, conscientes ou não, se tornam os associados indiretos dos traficantes, sem consumidores não haverá́ tráfico. As drogas têm sido a causa de muitos dos maiores males que vive a sociedade mundial. Como Igreja temos lutado com nossas forcas com ou sem apoio do Estado na criação de redes de apoio e casas de recuperação de usuários de drogas. Entendemos que a educação e uma família equilibrada são o maior antidoto contra o uso de drogas. Essa tem sido a missão da Igreja. O que seu candidato e seus apoiadores pensam sobre isso? (1 Pe 5:8)
Escolhamos candidatos- Existem candidatos e partidos que podem ser identificados dentro dessas recomendações. A escolha será́ sempre de cada um de nós, e as consequências da mesma forma, sempre serão sofridas por cada um de nós.
Essa é a nossa posição como Igreja de Jesus Cristo, que Deus nos abençoe e tenha misericórdia de nós.
Revmo. ++ Miguel Uchoa Cavalcanti
Bispo Diocesano de Recife e Primaz do Brasil
Revmo. + Marcio Meira
Bispo Diocesano de João Pessoa PB
Revmo. + Marcio Simões
Bispo Diocesano de Vitória PE
Revmo. + Evilásio Tenório
Bispo Auxiliar de Recife
Revmo. + Flavio Adair
Bispo Auxiliar de Recife Norte
“Ai daqueles que fazem leis injustas, que escrevem decretos opressores para privar os pobres dos seus direitos e da justiça” (Isaías 10, 1)
Tenho acompanhado um “debate”, se assim posso chamar, em torno de liturgias, adoração, ordem de culto, músicas, hinos, instrumentos e parece sem fim tudo isso. Sou do tempo em que o violão começou a ser introduzido no templo, pois até então, apenas era autorizado nas reuniões da “Mocidade”. Bateria, essa misericórdia, demorou ainda muito mais.
Hoje, na realidade, percebo uma verdadeira “batalha” onde o fogo amigo se espalha e atinge a muitos com seus estilhaços da ausência de bom senso e o desejo de prevalecer. Isso deve ser visto como triste e lamentável. Nenhum reformador desejou isso, nenhum grande líder almejou prevalecer para que o outro irmão “perdesse”. Tenho tido o privilégio de andar pelo mundo e continentes e ver o quanto essa discussão é ineficaz.
Certa vez assisti a um culto na internet em que, se eu fechasse os olhos, voltaria ao século passado, lembrando que eu, sou do século passado! As mesmas músicas, a mesma forma de culto e liturgia que eu, mesmo sendo daquele século, não me encaixo mais. No entanto, outros se encaixam e adoram verdadeiramente a Deus daquela maneira. Mas qual o problema então Bispo? O problema é o desejo incontido de prevalecer e afirmar aquilo como “A” forma de adoração verdadeira.
Há um livro de D.A. Carson e Tim Keller chamado “Louvor” publicado pela Thomas Nelson, e um capítulo foi escrito por um anglicano, Mark Ashton onde ele tenta repensar o que Tomas Cranmer pretendia quando ele construiu o Livro de Oração Comum da Igreja Anglicana. Ele diz isso.
“nunca foi o desejo de Tomas Cranmer congelar a liturgia anglicana por séculos para acabar perdendo sua relevância cultural e reapresentar a obscuridade da igreja, aspecto que ele trabalhou duro para remover” [1]
Deveríamos enxergar isso com os corações mais abertos, com maior flexibilidade, maior humildade e, menos espírito de julgamento. Tenho acompanhado a trajetória da adoração na igreja há algumas décadas e me entristece observar o juízo feito facilmente pelos que se consideram “históricos” contra os que eles consideram modernos (Worship) é o codinome dado e, vice-versa. Conheço adoração histórica vazia, repetitiva e sem espírito da presença e ao mesmo tempo observo ambientes do chamado show gospel das “Church” cheios de Deus e, vice-versa também.
Apresento aqui 5 aspectos que não podem faltar em nenhuma celebração, não espero sua concordância, mas espero seu bom senso, vamos lá?
ORAÇÃO
Existem celebrações quase completamente desprovidas de oração. A única oração em todo o serviço as vezes é depois do ofertório ou quando pregador termina o sermão. Não há orações de confissão, de intercessão, de ação de graças. Este é um padrão que temos visto crescer. A oração nos cultos se tornando rara e mínima em vez de comum e intensa. Me lembro de uma igreja que visitava na minha juventude por ter amigos ali. Havia oração no começo do culto é verdade. O pastor ou dirigente dizia “Vamos iniciar o culto com a oração do irmão “Fulano”. Confesso que morria de medo de que ele me chamasse um dia.
Sou anglicano e a liturgia anglicana não dispensa os momentos de oração no culto e a intercessão é parte intensa de nossa liturgia. Nossas intercessões vão desde o mundo, as nações, as missões o país, os governantes, presidente, governador, prefeito e autoridades e fazemos isso nominalmente, independentemente de quem sejam. Seguimos orando pelos enfermos, pela igreja, liderança e “descemos para a igreja local e seus líderes. Essa oração pode ser sim apenas um rito e se tornar algo enfadonho e protocolar. Nas nossas igrejas não permitimos isso e, clamamos com toda congregação, por cada um dos motivos
Um culto sem oração é um címbalo que retine
2. LEITURA DAS ESCRITURAS
Outro elemento que está se rareando nas celebrações é a leitura das escrituras. Houve um tempo em que a leitura da Bíblia nos cultos era dividida em 4 porções. Leitura do AT, dos salmos, das epístolas e do evangelho. Isso teve seu sentido no passado onde as pessoas sequer tinham acesso a bíblia.
Na época, foram impressas 3.000 cópias – considerada uma grande tiragem para o período. Cada exemplar custava entre meio gulden e 1,5 guldens, a moeda do sul da Alemanha. Era uma bela soma em dinheiro, mas bem mais barata do que as versões anteriores do Livro Sagrado. “Antes de Lutero, você tinha que pagar o equivalente, hoje em dia, a um Mercedes Classe S por uma Bíblia impressa. No século 16, uma Bíblia de Lutero era vendida pelo mesmo preço que uma geladeira hoje em dia”, compara o teólogo Hartmut Hövelmann…[2]
Nos cultos se lia as lições do lecionário para que a Bíblia fosse exposta ao povo que também era em sua maioria analfabeto. Não vejo problema em se fazer essa leitura, desde que a mensagem do dia esteja nelas, para que todos possam refletir e não apenas ler. Mas o salto das 4 leituras para praticamente nenhuma, foi longe demais. Existem igrejas que seguem fazendo as 4 leituras e, muitas vezes pregam em um texto diferente, elevando-as para 5. Sem exageros e tornando a coisa mais dinâmica, todos tem acesso a bíblia que pode ser lida a qualquer momento. Nas nossas celebrações lemos os textos que serão expostos no sermão.
3. CONFISSÃO DOS PECADOS E CERTEZA DE PERDÃO
Tradicionalmente, os cultos protestantes incluíam uma confissão de pecados associado claro ao perdão de Deus. Vejo aqui em minha mesa o manual de liturgia da Igreja Luterana que, assim como as demais igrejas históricas possuem em seus ritos o momento de confissão, onde um dirigente conduz a congregação e em seguida clama pelo perdão de Deus. Isso é muito bom, traz alívio e renovo a cada um. É um momento solene, mas não triste e o perdão deve ser visto com a maior alegria possível. Observo que o problema as vezes está na maneira que se conduz. Já participei de momentos de confissão e perdão onde tive vontade de sair da igreja pelo peso de culpa que se colocou sobre as pessoas. Solenidade não é sinônimo de espiritualidade nem de reverência, a alegria é reverente também.
4. PREGAÇÃO ONDE A BÍBLIA É EXPOSTA
Quando Paulo escreveu ao jovem pastor Timóteo, ele o instruiu a pregar a Palavra
Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu o exorto solenemente: Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério. 2 Tm 4:1-5
Os cristãos há muito entenderam que a melhor maneira de pregar a palavra fielmente é pregar de tal forma que o ponto do sermão corresponda ao texto. O pregador precisa entender não apenas a redação da passagem, mas a intenção do autor em escrevê-la etc. Isso leva à uma interpretação e aplicação mais fiel. O advento do “Coach Brasileiro”, algo bem tupiniquim, uma verdadeira jaboticaba, as pregações tem seguido essa linha e assim seguem em diferentes igrejas, históricas, contemporâneas etc. o pregador fez o curso de coach e esqueceu o conteúdo da Bíblia. Escolhe alguns textos bíblicos e citando-os aqui e ali, segue afirmando o positivismo geral…você pode, você consegue, você vai sair daqui hoje vencedor… e por aí vai.
Por outro lado, os expositores radicais seguem dando aulas nos púlpitos e pouco aplicam à vida das pessoas. O púlpito nesses casos se tornou uma academia e quanto mais títulos, melhor. Mas as pessoas seguem dizendo: “o que isso tem a ver com minha vida? A pobreza de aplicação dos expositores e a pobreza de conteúdo dos coaches, tem gerado uma igreja desnutrida. Alguns históricos desnutridos enquanto outros “modernos desnutridos”. Precisam todos saber que quando um pregador não tem cultura bíblica se percebe facilmente na sua exposição.
5. ADORAÇÃO CONGREGACIONAL
Todos sabemos e se não, devemos saber que o objetivo das bandas de louvor é servir e facilitar, não atuar e performar. Isso não se discute. No entanto a música tem uma parte decisiva na adoração comunitária bem como no evangelismo. Eu me converti aos 23 anos de idade, era fã do rock e da boa mpb. Um dos grandes obstáculos a minha conversão foi a música nas igrejas. Levava minha mãe ao culto e as vezes ela pedia para eu ficar e eu ficava, mas aquilo era um grande sacrifício, sim aquela música me torturava. Me aproximei de cristo quando conheci os “meninos de Deus” (Jesus people) e por quê? Porque a música deles me chamou a atenção.
Para alguns o canto congregacional deve ser de tal forma que as vozes do povo sobem mais alto que os instrumentos e dos ministros da música. Muitos se queixam que as igrejas se afastaram dos hinos, canções que dizem tinham verdade profunda definida para melodias simples, mas belas. Concordo em parte os hinos clássicos são peças musicais. E podem ser usados hoje, se adequando em estilo e melodias mais ajustadas aos tempos atuais. Igrejas onde se canta a capela ou no máximo com um piano defendem que esse é o modelo “certo” e aí vem mais uma vez o erro. Será possível que não se compreendeu que não há estilo, volume, instrumento ou qualquer outra coisa que possa definir uma verdadeira adoração? Ninguém pode julgar a adoração de ninguém pois ela se define no coração. Existem címbalos sonoros nas igrejas históricas com os hinos assim como em qualquer outra igreja contemporânea. Quem se preocupar com repetição, com clamor pessoal etc. deve dar uma passeada nos salmos ou retirá-los de suas bíblias pois talvez pareça “worship” demais.
A Liturgia Anglicana pede que haja equilíbrio nas celebrações e para isso existe um “esqueleto” uma “coluna vertebral” Que promove esse equilíbrio e que Tomas Cranmer sistematizou muito bem, e toda celebração deve ter:
Adoração
Orações e intercessões
Leitura da Palavra de Deus
Pregação Bíblica
Momento de ofertório
Enquanto houver o desejo de prevalecer e definir o que seja a “verdadeira adoração? Nos moldes culturais e denominacionais, deixaremos passar a oportunidade de exercer a nossa fé, agradar a Deus e ver o “O senhor acrescentando aqueles que irão sendo salvos”
Miguel Uchoa
Bispo Anglicano
[1] Ashton, Mark. louvor: análise teológica e prática. 1 Ed Rio de Janeiro? Thomaz Nelson Brasil.2017. P62